Em 17 de dezembro passado, Fabio Chaves, do tradicional site Vista-se, gravou um polêmico vídeo, intitulado “Boicote: produto VS empresa”.
Nele, ele declara ter mudado de ideia sobre se o veganismo passa pelo boicote total a empresas envolvidas com testes em animais ou “autoriza” o consumo de seus produtos “veganos” – ou seja, sem nenhum ingrediente de origem animal e cujos componentes já não sejam mais testados em animais.
Infelizmente essa mudança foi no sentido liberal, ou seja, no de passar a defender o consumo de produtos considerados “veganos” de empresas persistentemente envolvidas com esse tipo de política especista.
Se o vídeo deixou você pensativa sobre se realmente faria sentido começar a consumir produtos supostamente veganos de empresas que persistem nos testes em animais, convido você a ler esta resposta em texto aos principais argumentos lá expostos.
Saiba a seguir como o vídeo falha em suas argumentações e como seu posicionamento pode fazer mal à causa vegana e, por tabela, aos animais.
Os argumentos do vídeo “Boicote: produto VS empresa” respondidos
Infelizmente o vídeo veio cheio de falhas. Comete falácias e profere mitos ao imaginar como pensam e o que fazem os veganos a favor do boicote completo a tais corporações e ao tentar legitimar o seu ponto de vista como “superior”. Cai em pelo menos uma contradição importante. Ignora pautas interseccionais que também perpassam o nosso boicote junto com a exploração animal.
Em primeiro lugar, Fabio descreve o lado que até recentemente ele integrava e ao qual hoje se opõe:
“Dentro do movimento vegano, especialmente no Brasil, […] Tem uma galera que boicota todos os produtos de uma empresa se ela testa algum produto em animais. Mesmo que ela tenha 99 produtos que não [são testados em] animais nem tenham nada de origem animal, se ela tem um produto sob seu portfólio [ou com] outra marca que pertença a essa empresa, se um produto [for testado] em animais, aí tem uma galera que não consome nenhum produto da empresa.”
Nessa descrição, ele se contradiz com o que dizia em seu vídeo de 2018: que não são os produtos finais que são testados, mas sim uma parte de seus ingredientes. Aliás, ele relembra isso mais adiante no vídeo mais recente, o que acaba rebatendo essa parte que menciona “99 produtos não testados em animais e um testado” e deixando o conteúdo com um sério erro de coerência.
E ao relativizar esse “um produto” testado em animais, ele ignora ou relativiza o fato de que esse único produto que tem algum ingrediente testado em animais representa as persistência de uma política antiética da sua fabricante: a de consentir ou promover cruéis testes de seus insumos em cobaias.
Eticamente falando, não importa tanto se a empresa testa todos ou apenas um dos insumos dentre todas as suas marcas. Mas sim que ela precisa abolir suas políticas especistas e passar a respeitar os animais, e que esse último teste que resta é o que a impede de ser uma empresa minimamente comprometida com o combate ao especismo e à violência contra os animais.
“E quanto às empresas que comercializam produtos com ingredientes de origem animal lado a lado com opções veganas?” – você pode perguntar agora. Responderei essa indagação mais adiante.
Voltando ao vídeo dele, ele diz que tinha esse posicionamento opinativo: “Pra mim era uma coisa muito óbvia: testou em animais, boicota a empresa inteira, pronto, acabou.”
Se ele achava que “boicota e acabou”, preciso falar duas coisas. Primeiro, essa não é a mesma postura de quem defende que as empresas parem de testar em animais e abandonem outras práticas de mancomunação com a exploração animal. Segundo, me parece que, se ele pensava assim mesmo, então nunca entendeu a função do boicote vegano.
Nosso boicote não é nem um fim em si mesmo, como postura de oposição individual a uma empresa, nem é algo adotado isoladamente, nem tem o objetivo de levar empresas à falência.
Muito pelo contrário, boicotar uma empresa por ela ter alguma associação com testes em animais é apenas uma das atitudes que tomamos a respeito de suas políticas especistas.
Nós também providenciamos e-mails e ligações de SAC que a pressionam explicitamente a abandonar os testes em animais, condicionam nossa compra de seus produtos a essa medida e/ou anunciam os benefícios lucrativos de se veganizar como empresa.
E mais ocasionalmente, fazemos ou participamos de campanhas para que a empresa pare de testar em animais – basicamente uma versão libertacionista daquelas bem-estaristas que ONGs veganas-liberais fazem contra o confinamento de animais na pecuária.
Nesse contexto, quando a empresa para de testar em animais, muitos de nós a incentivam para que, como passo seguinte, substitua todos os ingredientes de origem animal dos seus produtos não veganos por equivalentes veganos e então se torne oficialmente uma empresa vegana.
Portanto, quando ele diz em seguida “Pesquisando sobre isso, descobri que esse posicionamento era uma coisa muito pessoal, era uma coisa minha, não uma definição do que é ser vegano e tudo mais”, percebemos que essa de que “boicota a empresa inteira e pronto, acabou” era mesmo uma precariamente informada opinião.
Mais para frente, ele dá os seguintes argumentos sobre ingredientes testados em animais:
“Se eles testam em animais, por exemplo, um corante azul […], como você vai garantir que eles não vão usar esse mesmo corante depois em um outro produto?”
“Tem uma coisa que vejo pouca gente falando: tudo que se sabe hoje, alimentício, corante, aromatizante, tudo isso um dia foi testado em animais. Então não tem como falar hoje em dia que um alimento industrializado qualquer, que usa um corante que seja, nunca foi envolvido de alguma forma com testes em animais.”
“Mesmo que você almoce todo dia num restaurante vegano, lá eles devem usar alguma coisa, alguma molécula que foi testada em animais algum dia, algum corante, algum aromatizante, alguma coisa tem.”
“Talvez se a gente estivesse presente na época em que [o ingrediente] foi testado, até hoje a gente ia falar “Não, não quero usar isso aí porque foi testado em animais”. Mas tem muita coisa que a gente usa e a gente nem sequer se dá conta de que foi testado em animais.”
Nessas falas, ele se equivoca ao deixar a entender que a nossa demanda seria por produtos cujos ingredientes jamais foram testados em animais desde que foram desenvolvidos pela indústria.
Nunca foi esse o nosso posicionamento. Mas sim o de que esses insumos nunca mais sejam testados em animais e que as empresas que as obtêm nunca mais os submetam a esse inaceitável tipo de teste.
Ou seja, não evitamos produtos cujos ingredientes passaram por testes cruéis há alguns anos, mas sim os de empresas que continuam hoje sujeitando-os a esses procedimentos e relutam em parar com isso.
Em outro momento, ele diz:
“Então se eles [a Vegan Society] que fizeram essa definição [a definição oficial de veganismo] dão selo pra produtos que não são testados em animais e que não têm nada de origem animal mesmo sendo de uma empresa como Unilever ou Nestlé da vida, que testa em animais outros produtos, então o que eu tô falando talvez seja uma coisa pessoal, não uma definição mesmo.”
Então vamos para a definição de veganismo dada pela Vegan Society (traduzida por mim):
Veganismo é um modo de vida que busca excluir, na medida do possível e praticável, todas as formas de exploração e crueldade promovidas contra animais para fins de alimentação, vestuário e qualquer outro propósito.
Dos veganos fãs de junk-food aos crudívoros, e todos das categorias intermediárias, há uma versão de veganismo que se adequa a cada pessoa. Porém, uma coisa que todos nós veganos temos em comum é uma alimentação vegetal que evita todo e qualquer alimento de origem animal, como carne (incluindo peixes, moluscos e insetos), laticínios, ovos e mel – assim como produtos como couro e qualquer um testado em animais.
Esse conceito orienta que o vegano exclua da sua vida, na medida do possível e praticável, o máximo possível de formas de financiamento da exploração animal. Daí, se ele pode evitar comprar de empresas que testam pelo menos uma parte de seus insumos em animais e/ou patrocinam rodeios, desfiles de moda com peles animais, exposições de animais etc., é um imperativo ético que evite.
Em outras palavras, se pode viver bem sem consumir nada de Nestlé, Unilever, McDonald’s e outras empresas que lançam produtos com selo “vegano” sem terem abandonado políticas especistas como submeter ingredientes de seus produtos a testes em animais, então não há nenhum motivo para não as boicotar.
Isso sem contar com os outros abusos éticos dessas empresas os quais nos motivam ainda mais para evitar todo e qualquer produto delas enquanto não forem parados: cumplicidade com a destruição ambiental e a superexploração de trabalhadores, interesse na privatização de recursos naturais, financiamento de profissionais de saúde para que defendam seus produtos nada saudáveis, disseminação de hábitos alimentares não salutares (leia aqui também) etc.
E é importante ressaltar: se a pessoa, num futuro com amplo e universalmente acessível mercado de empresas veganas e plenamente éticas, terá plenas condições de evitar lanchonetes, fabricantes de produtos, supermercados etc. não veganos, então precisará boicotá-los para ajudar a pressionar a se veganizarem.
É aí que eu respondo à pergunta sobre se a lógica de boicotar por inteiro empresas como as mencionadas não se aplica àquelas que produzem itens não veganos.
Hoje infelizmente é impossível evitar comprar de empresas não veganas, ou seja, que, apesar de não testarem (mais) nada em animais nem patrocinarem eventos especistas, ainda mantêm linhas de produtos com algum ingrediente de origem animal paralelamente aos veganos.
Além disso, nesse estado de coisas, boicotar pequenos empreendimentos, como a tão mencionada lanchonete paulistana Prime Dog, é ineficaz por diversos motivos, como explico nesse artigo que questiona se compará-la com a McDonald’s faz sentido.
Em outras palavras, podemos evitar, com algumas exceções, comprar de empresas que testam algum componente de produto em animais, mas não daquelas que fabricam e/ou comercializam produtos não veganos junto dos veganos atualmente.
Por isso, o princípio de evitar empresas associadas de alguma maneira com exploração animal ainda não se aplica a essa categoria. Mas vai começar a se aplicar a partir do momento em que esse boicote for plenamente possível e viável.
Isso ajuda a responder este outro argumento do vídeo:
“A maioria dos supermercados, pra não dizer todos, têm fazendas, têm rebanhos, têm tudo isso. […] Se você faz compras no Pão de Açúcar, você está também participando, dando dinheiro pra uma empresa que têm galinhas presas em algum lugar. E tem supermercado que inclusive tem caminhão pra carregar boi, tem fazenda com boi que eles levam pra abater e vender a carne no supermercado. Então a história de que supermercado é apenas distribuidor não é bem assim.”
Complemento a resposta a este trecho dizendo que, assim como não temos como boicotar supermercados que vendem produtos não veganos, também não temos como evitar esses que mantêm fazendas com exploração animal. Até porque, segundo o próprio Fabio deixa a entender, são uma maioria imboicotável dos supermercados brasileiros.
Ao justificar falaciosamente o consumo de produtos evitáveis de empresas idem que testam em animais com casos de companhias que por algum motivo não têm como ser boicotadas, ele parece ter se esquecido da expressão que faz toda a diferença no conceito de veganismo da Vegan Society: “na medida do possível e praticável”.
Cai na falácia de que, se não podemos boicotar toda e qualquer marca não vegana, nem esses supermercados que exploram animais, então não precisamos boicotar empresas que testam em animais.
Algo absurdamente semelhante à falácia antivegana de que veganos não podem boicotar medicamentos, vacinas, automóveis, plástico, eletricidade de grandes usinas etc. e portanto seria “impossível” ser vegano de verdade e então seria OK continuar consumindo produtos animais.
Daqui eu parto para este outro argumento:
“Consumir um produto sem nada de origem animal e que não foi testado em animais de uma empresa que testa em animais outro produto em algum momento é uma atitude vegana? Sim, tanto que a própria Vegan Society, que inventou o veganismo, dá selos pra alguns produtos de empresas mesmo com essas empresas testando em animais.”
Se ele e determinadas ONGs acham que isso é uma atitude vegana, que seja. Mas será que é uma atitude ética, que ajuda a poupar animais da exploração? Ou ele está tentando desvencilhar a postura vegana da sua qualidade ética, em prol de um hábito de consumo que sequer nos é necessário, faz mal aos animais e dá para ser evitado e substituído?
Ele tenta justificar essa posição por meio de sucessivas falácias de apelo à autoridade, ao considerá-la a “mais legítima existente” por ser apoiada pelas “principais ONGs internacionais” (curiosamente todas adeptas do “veganismo” liberal), por sites estrangeiros de notícias sobre o veganismo (que curiosamente o abordam também sob uma ótica liberal e pragmática) e por nomes como Gary Francione, Gary Yourofsky, James Aspey, Joey Carbstrong e Earthling Ed e dizer que, portanto, quem discorda disso estaria emitindo apenas “uma opinião pessoal”.
Lamento dizer, mas um posicionamento alicerçado na Ética Animal, em parâmetros lógicos e na própria definição de veganismo, a qual demanda o boicote a tudo aquilo que tem condições de ser boicotado, está muito longe de ser apenas opinião.
Além disso, não contribui para um debate de bom nível dizer ou insinuar que “minha posição é a certa e a oficial, e a sua que discorda de mim é só uma opinião subjetiva de baixo valor”.
Pelo contrário, é esnobar o posicionamento alheio com falácias, mais precisamente uma falácia de desqualificação pessoal, o conhecido ad hominem, mista com o já citado apelo à autoridade – curiosamente tipos de falácia muito comuns entre antiveganos que hoje infelizmente estamos vendo ser usados em debates internos por uma parcela dos próprios veganos.
Concluo esta parte da resposta ao vídeo respondendo a alguns outros argumentos, que percebo que são mitos do “veganismo” liberal.
A menção à demanda de entidades governamentais (como a FDA nos EUA e a Anvisa no Brasil) para que empresas testem parte dos ingredientes de seus produtos em animais
Ao contrário do que ele parece deixar a entender, existe uma forte demanda para que FDA, Anvisa e entidades regulamentadoras da indústria de outros países parem de exigir ou recomendar testes em animais.
Graças a anos de ativismo e muita pressão, a Anvisa, alguns anos atrás, deixou de exigir determinados tipos de testes que exploram cobaias, como os de irritação cutânea e ocular e os de fototoxicidade, e passou a aceitar métodos substitutivos que não usam animais.
A tendência é que cada vez mais substitutivos sejam aceitos e adotados pela entidade e, num futuro próximo, ela não exija mais nenhum teste especista para nenhum ingrediente.
Quanto à FDA, em algumas páginas, como essa referente a cosméticos, a autarquia diz estar trabalhando, junto a diversas organizações de Direitos Animais, para que cada vez mais testes especistas e cruéis sejam definitivamente substituídos por opções éticas. E ONGs como a One Green Planet a pressionam para que deixe de uma vez por todas de exigir ou recomendar qualquer tipo de teste em animais.
Isso sem contar que nossos esforços visam conscientizar as empresas de que, quando Anvisa, FDA e outras agências do tipo lhes recomendam ou exigem testes com cobaias, estão lhes prejudicando os negócios, ao torná-las suscetíveis à rejeição dos consumidores e colocar sua imagem institucional em perigo.
Ou seja, pressionamos tanto as empresas quanto as organizações governamentais de regulação sanitária da indústria para que tornem os testes em cobaias coisa do passado.
O argumento de que esse debate ainda acontece apenas no Brasil e já teria sido superado em outros países com a “vitória” dos que defendem o consumo de corporações que testam em animais
Uma busca rápida no Google desmente esse mito. Em diversos países, o debate continua efervescente.
Diversos artigos em inglês sobre o assunto foram publicados em 2019, ainda que grande parte defenda o consumo de produtos de empresas como a Impossible Foods e a Unilever, com mais ou menos ressalvas.
Se realmente já houvesse um consenso sobre isso, esses textos não teriam sido publicados.
O argumento de que comprar produtos “veganos” de empresas que testam em animais as encorajaria a lançar cada vez mais produtos “veganos” até se tornarem veganas, e que boicotá-las por serem especistas as induziria a retirar tais produtos do mercado
Como respondi no artigo em resposta ao vídeo do canal VegetariRango, isso não tem acontecido com a frequência devida.
Há anos ou mesmo décadas, marcas como Knorr (Unilever), Naturis Soja (Batavo) e Elma Chips (Pepsico) mantêm opções vegetarianas, sem nenhum ingrediente de origem animal. Mas nunca essas opções induziram suas empresas proprietárias a reduzir sistematicamente a variedade de produtos com ingredientes animais e substituí-las por alternativas vegetarianas.
No mais, o que fará essas empresas se tornarem aptas para o público vegano não é apenas lançar produtos vegetarianos. Mas sim também parar por completo de pagar ou promover testes em animais e/ou de patrocinar eventos como rodeios e vaquejadas, além de assumir o compromisso de abandonar os ingredientes de origem animal.
Quando fizerem isso, aí sim a diversidade de opções agora veganas terá alguma chance de se tornar decisiva para suas fabricantes se veganizarem e deixarem para trás todo e qualquer suporte econômico à exploração animal.
É o que já ocorreu com marcas como Skala e Lola Cosmetics no Brasil e está acontecendo gradualmente com muitas outras, como exemplifica a página do Instagram da Ariane Ficher do blog Ari Vegan.
Outros detalhes da argumentação do vídeo
Além das falácias, percebi alguns detalhes bem interessantes sobre como o vídeo dele retrata a causa vegana:
- Ele subentende uma falsa descrição do veganismo libertacionista político, como algo que consistiria simplesmente em boicotar empresas portadoras de políticas especistas até que quebrem;
- Reduz a atitude política do veganismo libertacionista a simplesmente boicotar empresas especistas, ignorando-se tudo o mais que ele faz;
- Reduz o veganismo a um mero hábito de consumo seletivo submisso às leis do mercado;
- Desconecta esse veganismo enfraquecido de outras atitudes e bandeiras sócio-político-ambientais. Em prol de uma definição flexibilizada de veganismo, desconsidera a necessidade ética de se opor a empresas que cometem crimes e outros abusos contra o meio ambiente, os trabalhadores, a saúde pública, os direitos dos cidadãos etc.
- Escanteia a bandeira do combate ao especismo. Ao discutir se consumir produtos “veganos” de empresas que testam em animais é uma atitude vegana ou não, não considera se isso é uma atitude ética e benéfica aos animais, no sentido de desmontar as políticas corporativas especistas;
- Desconsidera o fato de que nós já defendemos que empresas não veganas, uma vez que tenham parado de testar em animais e patrocinar eventos especistas, lancem cada vez mais produtos veganos e menos não veganos até que virem veganas.
Conclusão
Lamento profundamente que Chaves tenha aderido à tendência do “veganismo” liberal de flexibilizar o boicote vegano. Que tenha acenado positivamente a uma vertente que tenta relativizar o veganismo em favor dos interesses aéticos de grandes corporações, desconsidera pautas éticas e políticas que se interseccionam com o veganismo, promove bem-estarismo, considera a política de libertação animal “radical demais”, usa falácias semelhantes às dos antiveganos etc.
Diante dessa debandada de influenciadores veganos ao lado liberal – e especista -, convido você a ter senso crítico máximo quando for assistir a vídeos que defendem boicote vegano flexível, veganismo reduzido a hábito de consumo, demanda por reformas bem-estaristas mascarada de oposição ao confinamento de animais, apoio a marcas de empresas sem compromisso ético etc.
Não podemos deixar que a causa vegana continue sofrendo esse enfraquecimento despolitizante, que prejudica sobretudo os animais.
6 comments
Eu realmente não entendo porque ainda existe gente que defende que veganismo é esse boicote às empresas e não aos produtos.
A definição da Vegan Society fala “na medida do possível”. Um requeijão vegano a 10 reais (isso o mais barato que eu achei) em contraponto a um não vegano de 5 reais. Um produto vegano orgânico e artesanal a 20 reais contra um produto vegano de uma grande empresa a 10 reais.
Este “na medida do possível” engloba a questão financeira também. Isso sem falar no paladar. Alguns produtos veganos ainda são absolutamente caros e horríveis. Então esta postura complexa de ter saco pra ficar mandando e-mail pra SAC e pra fazer protesto na frente de empresas “pedindo” q elas se tornem veganas realmente é risível.
As empresas NÃO SE TORNARÃO VEGANAS POR OUTRO MOTIVO SENÃO MUDANÇA NO MERCADO CONSUMIDOR. É o MERCADO que define. Pois estamos falando, infelizmente, de capitalismo e são dentro das regras dele que o jogo se dá.
Então não é boicote que vai fazer a empresa mudar, pois nós veganos somos 0,01% da população. ISSO É UTÓPICO. Vamos mudar sim muitas empresas (talvez nunca até serrem veganas) da forma POSITIVA que é: comprando produtos sem testes nem ingredientes de origem animal.
A forma negacional, NEGATIVA é uma espécie de perda de tempo. Não me refiro obviamente aos produtos não-veganos. Mas os produtos de grandes empresas que não são testados nem tem ingredientes de origem animal são, de fato, veganos, pois se formos levar isso de boicote a ferro-e-fogo também paramos de nos relacionar com nossos parentes e amigos que não são veganos. Afinal, estas pessoas devem ser boicotadas e enquanto não se tornarem veganas não “sossegaremos”.
A maioria da humanidade de hoje NUNCA se tornará vegana, pois é uma mudança extremamente profunda.
O mundo caminha muito mais pro desenvolvimento da carne de laboratório (clean meat) (que inclusive já está em processo acelerado de desenvolvimento) do que de todo mundo comendo hambúrguer de grão-de-bico a 25,00 a caixa com 6.
Eu realmente não entendo porque ainda existe gente que defende que veganismo é esse boicote às empresas e não aos produtos.
A definição da Vegan Society fala “na medida do possível”. Um requeijão vegano a 10 reais (isso o mais barato que eu achei) em contraponto a um não vegano de 5 reais. Um produto vegano orgânico e artesanal a 20 reais contra um produto vegano de uma grande empresa a 10 reais.
Este “na medida do possível” engloba a questão financeira também. Isso sem falar no paladar. Alguns produtos veganos ainda são absolutamente caros e horríveis. Então esta postura complexa de ter saco pra ficar mandando e-mail pra SAC e pra fazer protesto na frente de empresas “pedindo” q elas se tornem veganas realmente é risível.
1. Você não entende boicote a empresas que promovem políticas antiéticas no geral, não “apenas” no âmbito da exploração animal?
2. A alimentação caseira já possui uma enorme variedade de alimentos, que tornam o consumo de imitações veg(etari)anas de alimentos industrializados de origem animal pouco ou nada necessário. O que precisamos nesse sentido é propagar essa alimentação mais saudável por meio do veganismo popular. E não deixar a população continuar dependendo de produtos ultraprocessados nada saudáveis e achar que essa dependência é uma parte necessária do consumo vegano.
As empresas NÃO SE TORNARÃO VEGANAS POR OUTRO MOTIVO SENÃO MUDANÇA NO MERCADO CONSUMIDOR. É o MERCADO que define. Pois estamos falando, infelizmente, de capitalismo e são dentro das regras dele que o jogo se dá.
Pois o mercado não está fazendo as empresas pararem de testar em animais, de patrocinar rodeios, de promover políticas antissustentáveis etc. por si só. Relembre que nossa luta não é por um amplo mercado de produtos duvidosamente veganos, mas sim por uma economia que não explore mais animais, nem mais seres humanos, nem mais o meio ambiente.
Então não é boicote que vai fazer a empresa mudar, pois nós veganos somos 0,01% da população. ISSO É UTÓPICO. Vamos mudar sim muitas empresas (talvez nunca até serrem veganas) da forma POSITIVA que é: comprando produtos sem testes nem ingredientes de origem animal.
Essa “utopia” está fazendo milhares de empresas ao redor do mundo abandonarem políticas especistas, como a Skala Cosméticos, a Yamá, a Lola Cosmetics etc. e abraçarem verdadeiramente o público vegano. Ou seja, a pressão vegana funciona, e você está subestimando isso.
A forma negacional, NEGATIVA é uma espécie de perda de tempo. Não me refiro obviamente aos produtos não-veganos. Mas os produtos de grandes empresas que não são testados nem tem ingredientes de origem animal são, de fato, veganos, pois se formos levar isso de boicote a ferro-e-fogo também paramos de nos relacionar com nossos parentes e amigos que não são veganos. Afinal, estas pessoas devem ser boicotadas e enquanto não se tornarem veganas não “sossegaremos”.
Aqui você usou falácia de redução ao absurdo. Ninguém aqui defende “boicote a ferro e fogo” contra pessoas. E boicotar empresas que não nos são necessárias, como Nestlé, Unilever e McDonald’s, passa extremamente longe de pararmos de nos relacionar com parentes e amigos não veganos.
A maioria da humanidade de hoje NUNCA se tornará vegana, pois é uma mudança extremamente profunda.
Com um pensamento que menospreza a educação vegana libertacionista e supervaloriza as dinâmicas aéticas do mercado, aí é que a humanidade não vai se veganizar mesmo.
O mundo caminha muito mais pro desenvolvimento da carne de laboratório (clean meat) (que inclusive já está em processo acelerado de desenvolvimento) do que de todo mundo comendo hambúrguer de grão-de-bico a 25,00 a caixa com 6.
O que garante a você que essa carne de laboratório também não vai ser algo de acesso elitizado, feito os produtos animais vindos de fazendas e granjas bem-estaristas e a maioria dos ultraprocessados “veganos” que você parece acreditar serem os timoneiros da expansão do veganismo no mundo?
Robson, achei um pouco contraditório 2 de suas respostas.
Em um momento você diz: “Pois o mercado não está fazendo as empresas pararem de testar em animais, de patrocinar rodeios, de promover políticas antissustentáveis etc. por si só.”
E na resposta seguinte diz: “Essa “utopia” está fazendo milhares de empresas ao redor do mundo abandonarem políticas especistas, como a Skala Cosméticos, a Yamá, a Lola Cosmetics etc. e abraçarem verdadeiramente o público vegano.”
Estou tentando enteder melhor esta questão, pois este argumento de aumento na demanda dos produtos “veganos” parece ser o mais utilizado por veganos libertacionistas. Mas ao mesmo tempo me parece ser algo difícil de se posicionar a favor ou contra, e algo que conseguiremos a resposta através de estudos e pesquisas no assunto. A impressão que tenho é que nos falta ainda muitos dados para tomar uma conclusão decisiva.
Rafael, a diferença entre a primeira frase e a segunda que você citou é que a primeira se trata de empresas como JBS, Unilever, Marfrig e Nestlé, que adotaram ou pensam em adotar produtos “plant-based” pra cooptar os veganos sem abolir políticas de testes em animais e mancomunação com a pecuária. E a segunda se refere a empresas que se tornaram veganas ou vegan-friendly não só por boicote de indivíduos, mas também pela pressão ativista pra que parassem de testar em animais e/ou veganizassem suas linhas de produtos.
No caso de JBS, Nestlé etc., lançam produtos erroneamente rotulados de “veganos” sem o compromisso de parar políticas especistas, ao contrário de Skala, Lola etc., que lançam produtos (verdadeiramente) veganos E param de testar em animais e utilizar ingredientes de origem animal.
Requeijão? Cara, é SUPÉRFLUO… O na medida do possível se refere ao que é possível para sua sobrevivência respeitando os animais. Se você é vegano e compra um SUPÉRFLUO de uma marca que testa em animais ou que sua existência provoque a morte e sofrimento de muitos animais, então você NÃO É VEGANO.
Tenho para mim que veganismo é boicote a tudo que induza sofrimento animal. Na medida do possível consumir apenas de empresas veganas. Ponto final.